A história de Lota de M. Soares e Elizabeth Bishop
de Carmen L. Oliveira
Páginas - 224
Editora Rocco
Em dezembro de 1951, Elizabeth Bishop desembarcou no Rio para uma escala de dois dias de uma longa viagem em que buscava um sentido para sua vida. Encontrou Lota de Macedo Soares e ficou 16 anos.
Flores raras e banalíssimas conta a história desse amor entre a poeta americana e a esteta brasileira, veemente e dramático, sob o pano de fundo do Brasil dos anos 50 e 60.
Talvez por não haver, na história recente, um outro exemplo de casal feminino tão formidável, a dupla biografia de Carmen L. Oliveira vem cativando leitores tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, onde foi publicada pela Rutgers University Press, em tradução de Neil Besner, recebendo dois importantes prêmios literários. Merece, agora, uma nova edição, pela Editora Rocco.
Os primeiros tempos de vida em comum, junto à mata de Samambaia, foram de grande felicidade. Esta pode ser medida pelo fato de que moraram durante anos em uma casa em construção, compensando a precariedade com uma intensa devoção. Assumiram sua homossexualidade com surpreendente naturalidade para a época. Bishop escreveu alguns de seus mais marcantes poemas em Samambaia, conseguindo se afastar do alcoolismo.
Em 1961, Lota embarcou no ambicioso projeto de idealizar e administrar a construção de um parque à beira-mar, no aterro do Flamengo. O casal teve que se mudar para o Rio. A visão urbanística de Lota esbarrava em interesses gananciosos e seus conceitos avançados de lazer e estética não encontravam ressonância na burocracia e na política. Lota foi-se ausentando cada vez mais de casa e, com imenso desgaste, canalizando suas energias para superar os obstáculos sistematicamente colocados pelos que consideravam seu plano visionário.
Bishop, antes apaziguada na casa na neblina, viu-se só, no burburinho da cidade grande. Seu melhor depoimento sobre a cruel transição entre a exuberância natural de Samambaia e o terror urbano está em seus poemas, nos quais a bromélia é substituída por uma cadela sarnenta e, em vez das imagens sensuais da vida natural, surgem putinhas dançando o chácháchá nas calçadas de Copacabana. Bishop recaiu no alcoolismo.
A obsessão de Lota pela conclusão do parque e a crescente instabilidade emocional de Bishop contribuíram para que ambas enfrentassem uma forte crise em sua vida amorosa, agravada pelo tumulto da época, com a instalação da ditadura e o fim político de Lacerda.
Os retratos nuançados de Lota e Bishop, bem como a reconstituição impecável do momento histórico, custaram a Carmen L. Oliveira muitos anos de pesquisa em documentos inéditos, correspondência das protagonistas, a obra de Bishop, ofícios de Lota, diários, agenda pessoal, jornais, revistas e depoimentos de confidentes. Daí emergiu uma história sensacional, envolvendo pessoas extraordinárias, como José Eduardo de Macedo Soares, D. Baby Lage, Carlos Lacerda, Roberto Burle Marx, Rachel de Queiroz e Alexander Calder, todos personagens do livro.
Diz Elio Gaspari: "Carmen L. Oliveira conta a história com um estilo de dar inveja e com o perfeito domínio dos grandes personagens que conviveram com as duas. Poucas vezes a figura do governador Carlos Lacerda, ainda que coadjuvante, apareceu tão bem retratada em sua energia e voracidade cultural."
Flores raras e banalíssimas é para quem gosta de uma boa história e de História. Livro que se lê de um fôlego só.
Flores raras e banalíssimas conta a história desse amor entre a poeta americana e a esteta brasileira, veemente e dramático, sob o pano de fundo do Brasil dos anos 50 e 60.
Talvez por não haver, na história recente, um outro exemplo de casal feminino tão formidável, a dupla biografia de Carmen L. Oliveira vem cativando leitores tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, onde foi publicada pela Rutgers University Press, em tradução de Neil Besner, recebendo dois importantes prêmios literários. Merece, agora, uma nova edição, pela Editora Rocco.
Os primeiros tempos de vida em comum, junto à mata de Samambaia, foram de grande felicidade. Esta pode ser medida pelo fato de que moraram durante anos em uma casa em construção, compensando a precariedade com uma intensa devoção. Assumiram sua homossexualidade com surpreendente naturalidade para a época. Bishop escreveu alguns de seus mais marcantes poemas em Samambaia, conseguindo se afastar do alcoolismo.
Em 1961, Lota embarcou no ambicioso projeto de idealizar e administrar a construção de um parque à beira-mar, no aterro do Flamengo. O casal teve que se mudar para o Rio. A visão urbanística de Lota esbarrava em interesses gananciosos e seus conceitos avançados de lazer e estética não encontravam ressonância na burocracia e na política. Lota foi-se ausentando cada vez mais de casa e, com imenso desgaste, canalizando suas energias para superar os obstáculos sistematicamente colocados pelos que consideravam seu plano visionário.
Bishop, antes apaziguada na casa na neblina, viu-se só, no burburinho da cidade grande. Seu melhor depoimento sobre a cruel transição entre a exuberância natural de Samambaia e o terror urbano está em seus poemas, nos quais a bromélia é substituída por uma cadela sarnenta e, em vez das imagens sensuais da vida natural, surgem putinhas dançando o chácháchá nas calçadas de Copacabana. Bishop recaiu no alcoolismo.
A obsessão de Lota pela conclusão do parque e a crescente instabilidade emocional de Bishop contribuíram para que ambas enfrentassem uma forte crise em sua vida amorosa, agravada pelo tumulto da época, com a instalação da ditadura e o fim político de Lacerda.
Os retratos nuançados de Lota e Bishop, bem como a reconstituição impecável do momento histórico, custaram a Carmen L. Oliveira muitos anos de pesquisa em documentos inéditos, correspondência das protagonistas, a obra de Bishop, ofícios de Lota, diários, agenda pessoal, jornais, revistas e depoimentos de confidentes. Daí emergiu uma história sensacional, envolvendo pessoas extraordinárias, como José Eduardo de Macedo Soares, D. Baby Lage, Carlos Lacerda, Roberto Burle Marx, Rachel de Queiroz e Alexander Calder, todos personagens do livro.
Diz Elio Gaspari: "Carmen L. Oliveira conta a história com um estilo de dar inveja e com o perfeito domínio dos grandes personagens que conviveram com as duas. Poucas vezes a figura do governador Carlos Lacerda, ainda que coadjuvante, apareceu tão bem retratada em sua energia e voracidade cultural."
Flores raras e banalíssimas é para quem gosta de uma boa história e de História. Livro que se lê de um fôlego só.
Esta edição revista é imperdível.
Carmen L. Oliveira é carioca, pós-graduada em literatura pela University of Notre Dame. Escritora e tradutora . Escreveu artigos para O Globo, O Estado de São Paulo e Bravo! Conferencista no Brasil e exterior. Publicou os ensaios "Luminous Lota" ( em In Worcester, Massachusetts, Peter Lang Ed.) e " Jack Soul Brasileira -- identidade cultural e globalização" (em Globalização, democracia e desenvolvimento social, CEBRI). Publicou, pela Rocco, Trilhos e quintais, reconstrução das revoluções de 30 e 32, na ótica de uma cidade imaginária em Minas Gerais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário