quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Glauco Mattoso

Glauco Mattoso, pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva, (São Paulo, 29 de junho de 1951) é um poeta e escritor brasileiro e é um dos mais radicais representantes da ficção erótica e da poesia fescenina em língua portuguesa, descendente direto de Gregório, Bocage e, em prosa, de Sade e Masoch. Seu nome artístico é um trocadilho com glaucomatoso, termo usado para os que sofrem de glaucoma, doença que o fez perder progressivamente a visão, até a cegueira total em 1995. É também uma alusão a Gregório de Matos, de quem se considera herdeiro na sátira política e na crítica de costumes.





















M(ai)S: antologia sadomasoquista da literatur
a brasileira
de Antonio Vicente Seraphim Pietroforte e Glauco Mattoso (organizadores)
194 páginas


Antes de tudo, é possível falar em literatura sadomasoquista? O SM, assim como homosexualidade, a pedofilia, o feminismo e a política são temas, que podem, ou não serem convertidos em escolas artísticas, entre elas, a literatura.

De que maneira se constrói a temática SM? São necessários dominadores e dominados, deve haver violência e dor convertidos em prazer, pelo menos para um dos dois, mas não apenas isso. Como diz Greimas, em sua semiótica, enquanto os castigos são oriundos de vinganças e reparações de faltas, o sadismo não depende dessas relações, uma vez que o ato sádico se completa em si mesmo. Castigos e vinganças precisam de um motivo que os acione; o sadismo se explica e justifica-se sozinho.

Correlacionado ao erotismo, o sadismo greimasiano dá forma ao tema sadomasoquista, que pode não passar de um tema entre outros temas, ou pode ser eleito como compromisso ético, estético e literário determinante. Uma antologia SM, portanto, deve ter, no mínimo, esse esclarecimento discursivo.


Apresentação: O discurso sadomasoquista
Antonio Vicente Seraphim Pietroforte

Incluídos nessa coletânea:
José de Alencar
Machado de Assis
Valentim Magalhães
Cruz e Sousa
João do Rio
Augusto dos Anjos
Pedro Xisto
Wilma Azevedo
Glauco Mattoso
Delmo Montenegro
Claudio Daniel
Antonio Seraphim Pietroforte
Joca Reiners Terron
Marcelo Sahea
Virna Teixeira
Luiz Roberto Guedes
Horácio Costa
Del Candeias
Frederico Barbosa
Ana Rüsche
Dirceu Villa
Contador Borges
Marcelo Tápia
Luís Venegas
Ivana Arruda Leite
Leila Míccolis
Renata Belmonte
Flávia Rocha
Adelice Souza
Leo Pinto
Ceguinho do Ceará
Victorio Verdan
João Silvério Trevisan
Hugo Guimarães
Gustavo Vinagre
Ronaldo Bressane
Pedro Tostes
Marcelo Mirisola
Caco Pontes
Mário Bortolotto
Ademir Assunção
Marcelino Freire
Leandro Leite Leocadio
Berimba de Jesus


Faca cega
de Glauco Mattoso
120 páginas



Este volume registra quatro aventuras poéticas de Glauco Mattoso, duas delas em parceria com novos talentos de velhos gêneros, tais como Danilo Cymrot na décima e Leo Pinto no soneto. O ciclo que dá título ao livro compõe-se de dez sonetos e conta a história da vítima deficiente que se converte em herói superdotado, graças à credulidade do povo e à marginalidade que o cerca. O segundo ciclo narra uma saga mais extensa, composta de quarenta sonetos, adiante comentados. Os ciclos terceiro e quarto são pelejas de Glauco Mattoso, respectivamente com Cymrot e Pinto, nas quais o duelo entre mestre e discípulos serve de laboratório à experimentação temática e formal nesse tradicional pingue-pongue versificado: a “Peleja de Danilo Cymrot com Glauco Mattoso” (2005) e o“Epistolário escatológico de Leo Pinto” (2007) são resultado do diálogo internáutico que Mattoso manteve com dois de seus alunos numa oficina poética. Na “Peleja”, as décimas se pautam pela “deixa”, praxe popularizada pelos cordelistas e cantadores. Já o “Epistolário”, composto de sonetos, foge ao costume nordestino para remontar aos jogos barrocos e arcádicos, ainda que contextualizado na pós-modernidade.


Confira o Soneto do Pistolão

SONETO DO PISTOLÃO (#32)

O cara é do partido governista
e em tudo uma influência ele trafica.
Praquele gabinete alguém me indica
e brilha seu olhinho, mal me avista!
Percebo que emplaquei outra conquista:
me trata friamente, até que fica

difícil disfarçar que minha pica deseja,
mas eu quero que ele insista!

Não tarda, estou sentado à sua mesa,

vestindo terno, e apóio os pés cruzados
no braço da poltrona, de surpresa!
Só falta ele os sapatos engraxados

lamber até lustrar!
A rola tesa
divide seu olhar
com meus solados!


LANÇAMENTOS DA
Annablume, Dix Editorial

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